Alguém vai morrer
Existem dois grandes desafios da escrita para mim , o primeiro é aceitar minha voz no texto: me apropriar dessa linguagem que é só minha, da bagagem de imagens mentais que a vida vai me dando, me autorizar ou melhor dizendo me atrever a tentar entreter pessoas num texto curto, num conto, num romance.
Quando leio Veríssimo, Camus, Hang Kang, João Antônio, e por aí vai, o que me vem à cabeça é:
— ah, é assim que se escreve bonito, vou fazer assim também.
Mas uma coisa é inspiração, outra coisa é querer ser o Guimarães Rosa de 2025 e ninguém precisa disso.
Segundo, é aceitar que não existem palavras suficientes para expressar a trama maravilhosa que eu tenho na mente e mesmo assim sentar para estragar tudo escrevendo.
Porque a cena que eu quero que você imagine vai ser iluminada com o seu abajur mental e por mais que eu insista que você use uma lâmpada amarela, eu não tenho controle sobre as nuances que você imaginou. Também seria ingenuidade minha presumir que você vai imaginar o que eu não disse. Como acertar o ponto?
Talvez, escrevendo de forma tão didática, acadêmica e sem brechas, que você fique sem saída na leitura matemática, mas aí corro o risco de que seu abajur mental nem se acenda como em certos romances contemporâneos premiados....
Tenho dois grandes problemas então, se não escrevo mato a arte e se escrevo, mato a artista.